Previsão de tempos latino-americanos

A América Latina entra em um novo ritmo com as mudanças políticas dos últimos anos, com saídas de governos radicalmente de direita ou neoliberais, aqueles que entendem que a solução para qualquer crise é a redução do tamanho do Estado, com ataques ao estado do bem-estar social.

Na Colômbia, Gustavo Petro vem dando passos importantes de negociação com Nicolás Maduro, com abertura de fronteiras, depois de muitas turbulências entre os dois países com interferência de políticos colombianos aliados de primeira hora dos EUA, envolvendo uma oposição venezuelana com discurso conservador e entreguista, aliado anteriormente ao governo do americano Donald Trump. Em tempo, Juan Guaidó se tornou uma piada e de mal humor.

Pensar um país da região deveria resultar em concepção estratégica de toda a América Latina, mas ao contrário, a história se repete, com uma divisão política orquestradas por players interessados na exploração regional, no que se refere à riqueza do solo e consumo.

Presidente da Argentina em encontro com Lula, vencedor das últimas eleições presidenciais no Brasil, em evento na Casa Rosada; os quais representam outros governos com projetos sociais para a América Latina- imagem site Poder 360

Assim, tornando os latino-americanos uma espécie de celeiro de commodities e consumidores de produtos, para enriquecimento externo – sem abertura para industrialização e investimento em tecnologia regional. A palavra, portanto, é negociação e união de forças.

A vitória de Lula no Brasil traz uma vigorosa vitória para este pensamento de união, o qual já sinalizou aproximação com os países de visão social da região, como é o caso da Argentina, Colômbia, Bolívia e Venezuela, Chile, ainda que a questão seja complexa, que exige ampla discussão, mas ecaminhada.

Pensar democracia por aqui exige muita atenção, afinal, pode ser sinônimo de exploração, cuja liberdade e justiça não resultam em reflexo para a maioria da  população, quando se tem uma elite enfeitiçada por New York, Londres, Paris.

A “derrota” de Trump e de seus seguidores nos EUA, neste momento também é uma boa notícia para a região. Primeiramente reduz qualquer visão otimista do bolsonarismo radical no Brasil e aliados do conservadorismo americano com as antenas ligadas nos conflitos da região.

Não se deve esquecer da personalidade do Tio Sam que será sempre pela concentração de poder regional, como pensou os idealizadores de uma “pátria grande” que abarcasse parte da América Latina. Realidade conhecida pelo México que perdeu importante recorte de seu território, com aumento de terras e poder do EUA.

Se historicamente a estratégia de divisão funcionou na região, e pensando nisso a Argentina tem papel fundamental nas próximas eleições, na escolha de novo presidente, cuja situação é complicada para o atual presidente, Alberto Fernández e o Kirchnerismo, tendo nos calcanhares dívida impagável feita nos tristes tempos Maurício Macri e seu grupo político.

Porém, como parece ser, a exemplo de movimentos políticos latino-americanos, os argentinos formam uma população com propostas sociais definitivas e conscientes de seu lugar nestas disputas políticas.

Jornalismo do ódio

https://tudorondonia.com/uploads/25-04-18-ygxuj9kt1nnfs5t.jpgnodebate – O ódio que se espelha pelo Brasil motivado pelas disputas política, envolvendo o conservadorismo autoritário de Bolsonaro e progressista de Haddad o PT, passa também pelos meios de comunicação nos quatro cantos do país, em tempos das tecnologias da informação, como a internet e rede social.

No interior, a repetição da antipolítica, vinda dos grandes centros urbanos é evidente, sem analises tão necessárias, tornando-se afirmações como verdades inquestionáveis. Evidencia para o brasileiro, informando-se rapidamente, que há assalto a todo momento cometido pelos representantes políticos no país.

Este é um comportamento equivocado e gerador de sentimento de impotência do cidadão, ao qual resta a busca de opositor que possa encontrar frente a frente ou com existência na rede social. O radicalismo, como se sabe, é perigoso e não leva a organização de uma sociedade que funcione sistematicamente.

O jornalismo perdeu capacidade de reflexão, ensinada nas universidades e se tornou a visão do senso comum como a própria realidade, sem matizes de cores, geralmente apelativa, que objetiva a sensação para a audiência.

Sobre esta questão valem outras análises com mais vagar.

Rousseff afirma aos Senadores que está em curso no Brasil um duro golpe da elite à democracia

Um momento histórico vivido pelo Brasil no Congresso Nacional no discurso da presidente afastada Dilma Rousseff, nos momentos finais de decisão sobre o seu impeachment. Segundo ela faz parte de injustiça e interesse de uma elite brasileira, que está pronta para golpes e se manter no poder. Isso teria acontecido, segundo Rousseff(PT), no governo de Getúlio Vargas, que o levou à morte. Por sua vez, Juscelino Kubitschek conseguiu se desvencilhar de golpes em momentos em momento cruciais na presidência e João Goulart soube se defender do poderosos, mas não evitou o golpe militar, que retirou da democracia do país.

No discurso no Senado Federal, nesta segunda-feira (29), diante de políticos favoráveis à sua manutenção no governo e oposição, Rousseff afirmou que “o golpe” que está em curso iniciou com a vingança do, então, presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), o qual aceitou o pedido de impeachment como retaliação. Porém, o processo para a retirada do governo começou logo após sua vitória nas urnas, em várias tentativas, como questionamento das contas de campanha do partido.

A mídia brasileira não ficou de fora da citação da presidente afastada, que teria orquestrado com a oposição criar  apelos na população para sua saída da presidência, em um conluio com a elite conservadora e golpe do Brasil. Soube enfrentar as torturas do governo militar enquanto esteve na prisão em um Estado autoritário, depois enfrentou grave doença, hoje, no entanto, teme a morte da democracia.

A seguir o discurso de Dilma Rousseff publicado pela Empresa Brasileira de Comunicação (EBC).

Vamos lá Brazil!

nodebate – Uma pergunta que não se cala, pelo menos na opinião pública: por que Eduardo Cunha(PMDB) não sofreu nenhuma penalidade, como vem ocorrendo com diversos políticos brasileiros (majoritariamente do PT) e empresários envolvidos em lavagem de dinheiro e corrupção?

Será mesmo que justiça significa o princípio da ordem, relacionando establishment (poder econômico) e instituições? Nada mais triste observar Cunha em encontros com o presidente Interino Michel Temer(PMDB) e às escondidas, mesmo o peemedebista já estando denunciado pelos pares no Congresso, e a mídia tradicional ainda que contrariada, reproduz suas ilegalidades.

Afinal, o que acertam Temer e Cunha? No “diálogo”, longe das luzes sociais, um presidente sem votos (com presidente eleita afastada em um jogo político, sem crime identificado) e o presidente da Câmara afastado de seus poderes, mas com poderes institucionais, como se vê. É isso!

O Braxit do Reino Unido

nodebate – A saída da União Europeia gerou no mundo uma grande comoção, talvez mais do que no próprio país do conservador, de David Cameron e da reverenciada mundialmente Família Real. O que parece confuso é entender como uma nação de primeiro mundo, na composição entre países desenvolvidos, os do centro do poder econômico, decide pelo caminho da ruptura política e econômica e caminha sozinha em sistema financeiro globalizado.

Na realidade em questão está a soberania de nação – identidade, cultura, territorialidade e poder – em disputa. Afinal, o mais importante é viver em um grupo de diversos países poderosos, com menos autonomia social, considerando a formação de lideranças com imposições internacionais? O Estado, por estar sendo organizado internamente, não seria uma forma de definir rumos políticos e econômicos próprios? Certamente, a tomada de decisão dos cidadãos britânicos aumenta os questionamentos sobre o fim do Estado, da ideologia.

Neste passo dos britânicos, evidencia-se como exemplo, de que as fronteiras territoriais são fundamentais, e não o mundo sem limites da economia de mercado, sem instituições legitimadas pela população com suas lideranças eleitas pelo voto. Talvez seja esta a razão de grande desconforto mundo afora. O Estado permanece em discussão e não se trata de questão de um país de segunda classe, como entendem as lideranças internacionais, como Brasil, de governo interino. Porém, um país do velho mundo.

Por outro lado, possível compreender que na autonomia do Estado organiza-se os limites do poder de forças nacionais, com interesses de lideranças – conservadoras ou liberais – para se manterem na hegemonia do poder, seja econômico, político e ideológico. No entanto, na crise de identidade que se observa na definição de nação, por certo, pode ser uma estratégia de valorização da própria nacionalidade, que esmaece em um planeta sem fronteiras.

Difícil saber se realmente, entre os 52% daqueles que votaram pela saída da União Europeia, perfazem mesmo no conjunto apenas aqueles de linha ideológica ultraconservadores. Por cento, as generalizações levam somente a formação de um pensamento simplista e na tentativa de convencimento político para o consenso.

A Política da política

nodebate – No Brasil a política vai muito mal. Uma verdade que está à frente dos nossos olhos na TV, nos jornais, rádio e internet, ou melhor, no jornalismo. Esta não é uma realidade publicada somente no Brasil. Importante notar na Argentina, Bolívia, Equador … na América Latina e outros países fora do eixo da economia moderna.

Em contrapartida, nestes mesmos meios de comunicação, o debate sobre eleições caminha com disputas homéricas nos Estados Unidos, onde a democracia e política existem com vigor. Mas será mesmo que é esta a realidade, de maneira honesta? Não seria o caso de observar a política que se faz contra a política representativa?

Se há duas décadas, a América Latina se apresentava como o lugar do ressurgimento dos movimentos contra o poder global, das velhas e ricas nações do centro econômico mundial, o jogo neste tempo que se passa virou. Agora, são os grandes centros que têm o controle da partida e os insurgentes perdem feio, num placar próximo dos 7 a 0, o resultado memorável do jogo entre Brasil e Alemanha, no campeonato mundial, que não se esquece por aqui e será sempre lembrado por lá.

No final, nestas disputas, os brasileiros convivem com o que se vê imediatamente, mas rebolando como dá contra crises sucessivas no mercado, no consumo e emprego – há excessos, devemos aceitar.

Na Bolívia, Evo Morales mostra suas fragilidades, já enfraquecido, apesar da grande popularidade que preserva, devido aos ventos da economia que conduz e estabilidade do país. Mas não conseguiu seu objetivo, o de mostrar ao mundo sua capacidade de dominar a política da sua nação, mesmo depois de três mandatos sucessivos no poder em La Paz. Oportunidade surge para a oposição enfraquecida, quase inexistente. Sobrará tempo e condições para o seu fortalecimento e modificações políticas boliviana.

Na Venezuela, embora nunca tenha sido um bastião de política na paz dos justos, está em profunda crise econômica, com informações de fim do governo deixado por Hugo Chávez, um anti-herói para o consenso internacional. Na Argentina, Mauricio Macri desfaz o governo da família Kirchner, com todas as pompas dos grandes jornais mundiais. Enfim.

No Brasil, talvez nem precisasse dizer os escândalos que sucedem e atingem diretamente o governo petista e o partido dos Trabalhadores. Efetivamente, há mais informações e denúncias que a realidade apresenta no desenrolar dos fatos. Nas reportagens do jornalismo brasileiro o Juiz de primeira instância, Sérgio Moro, torna-se herói, quem se apresenta em todas as ações envolvendo a principal estatal brasileira, a Petrobras.

O que diz o juiz federal se torna rapidamente verdade, com números que embaralham a mente de qualquer cidadão bem-intencionado. Ressalvando todas as questões de interesses de corrupção, que está endêmica em várias etapas do processo público brasileiro e não é de hoje, a política vive momento de oposição ao sistema de fortalecimento do Estado para mais aumento do poder do mercado, e com liberdade plena e ventos fortes.

Logo a Petrobras não terá primazia na exploração de petróleo, como parece ser o desejo do Congresso Nacional, conservador brasileiro, fazendo Getúlio Vargas revirar no túmulo, mesmo depois de ser retirado da história com uma bala política.

Sem delongas, reconhecendo os problemas inerentes à representação pública e democracia, parece haver algo na política que a sociedade da informação desconhece, bem aqui, abaixo da linha do Equador.

Enigmas de Veja

Em tempo de Mensalões, a quantidade de vendas da Veja atesta a vocação discursiva de milhares de famílias brasileiras, que seguem as narrativas do principal meio de comunicação no seu segmento, no Brasil

O poder das mídias, sobretudo do jornalismo, é um tema recorrente e importante para a sociedade. Pois, o conhecimento sobre a esfera pública mantém certa dependência dos meios de comunicação – ainda mais em tempo global, de muitos acontecimentos com efeitos sistêmicos. No final de cada discussão evidencia-se também a capacidade da imprensa de formar comportamento e hábitos culturais que levam ao consumo desenfreado e a passividade política embrutecedora. Nada demais, compreendendo que ainda assim é indispensável à informação para o cotidiano.

Se o objeto de análise é a Revista Veja, então, não aparecerão muitos que a defenda. Para os críticos sua linha política visa à formação de uma sociedade alienada aos princípios neoliberais, a serviço de uma elite conservadora e hegemônica – formada por ricos empresários, do agronegócio, mercado internacional. Porém, numa análise mais aprofundada e complexa vai se percebendo que a visão de mundo que é traçada pelo semanário paulista se relaciona com o imaginário social do país, inclusive de grande parte da população politicamente excluída.

Como exemplos, o desejo de consumo está inserido em suas páginas, inclusive os grandes modelos de vestuários, além das grandes atrizes, quase sempre com roupas sumárias e deslumbrantes (haja sexualidade exposta), pura fixação e idealização. Narrativas que encontram o fetiche social, inclusive reproduzindo discursos que permeiam grupos que se mostram críticos ao sistema capitalista. A fervorosa crítica ao governo petista não se restringe ao grande latifundiário brasileiro, bem como o repúdio a Fidel Castro, Evo Morales, Rafael Correia e outros latino-americanos vistos como próximos de um socialismo decadente.

O convencimento de Veja se efetiva na reprodução de comportamentos que está inserido nos espaços sociais, como é o caso da defesa dos direitos à liberdade sexual, os direitos da mulher e a denúncia contra a violência urbana, a morte, etc. e tal. Neste sentido, há uma repetição de temas e comportamentos que formam consenso em grande parte da mídia nacional – uma espécie de agendamento, por que não dizer globalizado, ocidental. Em essência, as mensagens ganham repercussão universal, com reflexos em diferentes culturas e comunidades territoriais, a partir de outras mídias com discurso que se reproduz.

Neste propósito surgem muitas dúvidas. Uma se destaca, quem vem primeiro a Revista Veja e seus congêneres na imposição de comportamentos ou os comportamentos sociais sistematizados pressupõe a existência do veículo de comunicação, conforme tais paradigmas? Neste espaço certamente há trocas fundamentais para a organização do conhecimento dos indivíduos em sociedade, que não podem viver sem mediações no mundo moderno, pós-imperialismo, com faz entender autores como Néstor García Canclini, em seu texto “A Globalização Imaginada”.

Apenas a observação das capas – uma espécie de cardápio para o que vem no seu interior – do semanário editado pela paulista Abril evidencia-se a pertinência dos assuntos em pauta, que dramatizam a realidade e sensibilizam a população, em conformidade aos interesses sociais como terrorismo, catástrofes naturais, corrupção, economia, etc. Há aqueles formados de maneira latente, como é o caso da sexualidade, internet, profissão, rentabilidade financeira, emprego, etc.

Em tempo de Mensalões, a quantidade de vendas da Veja atesta a vocação discursiva de milhares de famílias brasileiras, que seguem as narrativas do principal meio de comunicação no seu segmento, no Brasil.

Realidade e ficção política

Dito isso, outra questão torna-se fundamental. Quanto às questões políticas, qual a razão dos candidatos apoiados pelo semanário não vencerem as eleições, como é o caso de políticos tucanos, sobretudo paulistas, que sofreram sucessivas derrotas às eleições à Presidência da República, mas que receberam explicitamente apoio da família Civita?

Certamente a ficção e a realidade empírica precisam se encontrar em algum momento. Considerando que as narrativas envolvem o enquadramento do acontecimento, relacionando o posicionamento político da empresa de comunicação e suas relações de poder, necessariamente o público também busca sua escolha particular. A realidade passa, então, a ser a do seu cotidiano, mais duro e mais real, condizendo com o que vê e convive. As belas personagens da revista são maravilhosas para se observar e pensar com prazer, mas não se inserem na realidade pragmática, embora haja desejos, criados pela imagem narrada. O politicamente correto da mídia pode não ser o das histórias cotidianas, o que minimiza o poder de dominação do semanário.

Partindo do pressuposto de que a realidade sai das histórias que contamos e ouvimos todos os dias – lembrando Luiz Gonzaga Motta (UnB) -, além das que lemos cotidianamente, os meios de comunicação perdem em essência para as imagens tratadas localmente, com personalidades vivas e presentes nos fatos, como é o caso de pessoas que vivem na miséria e na falta de condições de uma vida melhor para a família. Existe, portanto, um mundo que vai se idealizando coletivamente, mas deve estar em conformidade com a capacidade de tocá-lo, em última instância.

Em muitas circunstâncias a realidade das mídias podem se materializar, conforme suas histórias e imaginário social. Como exemplo a repetida, discutida e emblemática vitória de Collor de Mello para a Presidência da República, com profunda parcialidade decisiva de Veja e parte substancial da mídia brasileira. Um personagem de uma história real, em tempos de escolhas políticas, em meio à dura realidade existente e sem solução – o salvador da pátria serviria a propósito. A esperança midiatizada aponta para soluções concretas se comparada com as grandes mazelas que se mostram eternas. Entre o pessimismo e as possibilidades relatadas pelo imaginário, prefere-se o último. Ainda mais quando se tem uma narrativa com muitas vozes políticas que apontam caminhos seguros. O terreno da política é de fortes batalhas no imaginário.

Em resumo, a comunicação e a cultura são termos complexos, que muitas vezes se tornam simples demais, sem uma análise mais profunda. Compreender significa analisar sem paixão, pois a comunicação é social, e sem a anuência do público não existirão mediadores com audiência. O poder de influenciar no diálogo com o imaginário popular, formação cultural e comportamento político, se faz um enigma de Veja – e demais mídias em tempos de globalização.

Quilombola é 40% europeu, mostra DNA

Folha de S. Paulo

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Fonte Wikipedia

REINALDO JOSÉ LOPES COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Análises de DNA estão ajudando a contar a história das populações quilombolas –e o resultado indica que se trata de uma história mestiça.

Em quilombos do Vale do Ribeira (SP), por exemplo, embora a ascendência africana tenha ligeiro predomínio, cerca de 40% do patrimônio genético dos moradores parece ser de origem europeia, enquanto um quinto teria sido legado por indígenas.

Os resultados vêm de um estudo das pesquisadoras Lilian Kimura e Regina Mingroni-Netto, do Instituto de Biociências da USP. Elas analisaram amostras de DNA de 307 quilombolas de dez comunidades no Vale do Ribeira. Os dados foram publicados na revista “American Journal of Human Biology”.

As proporções de ancestralidade africana, europeia e indígena encontradas pelas pesquisadoras e seus colegas batem, grosso modo, com resultados obtidos em quilombos da Amazônia, indicando que tanto brancos quanto índios –além dos escravos negros– tiveram papel importante na formação dessas comunidades tradicionais.

No Congresso Brasileiro de Genética, que acontece nesta semana em Águas de Lindoia (SP), Kimura deve apresentar mais dados, os quais sugerem que essa miscigenação não foi exatamente igualitária, porém.

Quando se olha apenas o cromossomo Y (a marca genética da masculinidade, transmitida apenas de pai para filho homem), verifica-se que mais de 60% dos quilombolas do sexo masculino descendem de um homem europeu, enquanto apenas 9% deles têm um indígena como ancestral paterno. (O que sobra da conta, claro, corresponde às linhagens africanas do cromossomo Y.)

A interpretação mais lógica desses dados é que, na época colonial, os homens de origem europeia monopolizavam as mulheres africanas e indígenas. Trata-se de um padrão encontrado numa série de outras populações brasileiras, inclusive no caso de quem se declara branco: é comum que a pessoa descenda de índios ou negros pelo lado materno, mas bem mais raro que sua linhagem paterna tenha essa origem.

GARIMPOS

Kimura conta que a região do Vale do Ribeira teve um ciclo do ouro incipiente e que, quando os garimpos se esgotaram, muitos escravos foram abandonados por seus donos ou fugiram, dando origem às comunidades da região.

Os descendentes desses primeiros quilombolas contam que mestiços de brancos com índios também teriam se juntado a esses grupos. “O que está menos claro é a presença de homens de origem indígena. Parece que as mulheres índias é que foram incorporadas nas comunidades”, explica a bióloga.

Ela diz reconhecer o risco de que resultados como os obtidos em seu estudo tenham uso político em discussões sobre cotas raciais, por exemplo.

“Acho que esses dados servem para você contar e valorizar a sua história. Mas eles são muito diferentes da autoidentificação, que está ligada à origem cultural. A gente sabe, por exemplo, que pessoas com cor de pele bem clara podem ter mais genes de origem africana e vice-versa”, pondera.

Devoro-te

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Charge publicada pelo Jornal Folha de S. Paulo, sexta-feira 22 de junho.

Bom avaliar que diferente de outros temos vivemos em um mundo de mais trocas comunicativas, com perda de poder de influência das grandes mídias tradicionais. Como é o caso da atuação política da Rede Globo de Televisão

 

 

A política não pode ser pensada isoladamente, como se resolvesse por si mesma. Está num cipoal de um conjunto de outras instituições. Dentre elas a educação, as mídias, a religiosidade e sobremaneira a economia. O político que representa as pessoas precisa negociar com vários agentes sociais, atento aos anseios da população que o elegeu.

Evidentemente que esses humores mudam com o tempo. Ainda bem! Sendo assim, não seria de assustar a perda de credibilidade de reconhecidos nomes da política e do poder perante os grupos na rua. Um quadro do instante de movimentos políticos sociais.

Conforme publicação do jornalista Fernando Rodrigues na sua coluna na Folha de S. Paulo deste sábado (22), fazendo referência a levantamento do Datafolha, realizado entre os manifestantes da capital paulista, “o líder na disputa pelo Palácio do Planalto é o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, com 30%. Em segundo lugar vem Marina Silva, da Rede Sustentabilidade, com 22%”.

Surpreende a performance da presidente: “Dilma Rousseff, que, na pesquisa nacional Datafolha do início do mês, pontuou 51%, aparece com meros 10% entre os manifestantes de São Paulo. O tucano Aécio Neves tem 5%. Eduardo Campos, só 1%”.

Embora seja apenas uma mostra de um intervalo de tempo cheio de emoções, do ato de protesto, e desejo de mudanças que nunca chega; é revelador.

Há uma espécie de comportamento político latente que vem se formando na busca de alternativa de poder, que seja representativo de interesses sociais efetivos e não somente na aparência. As  negociações com o universo da economia, que consegue sobrepor os projetos de representação eleita, parecem estar sendo questionadas – a exemplo do que ocorrem com as liberações de concessões das linhas de ônibus, telefonia, rodovias, petróleo, etc.

Talvez seja hora de os governos abrirem as portas para um bom diálogo com os manifestantes e com a sociedade.

Bom avaliar que diferente de outros temos vivemos em um mundo de mais trocas comunicativas, com perda de poder de influência das grandes mídias tradicionais. Como exemplo, a atuação política da Rede Globo de Televisão, no sofrível erro das lideranças econômicas que instituíram a gestão militar no Brasil. No final, mais comunicação menos domínio das mentes e corações – sobretudo no terreno político.

Social no conflito entre STF e Congresso

Um juiz ou um ministro do STF é um ser político e não consegue se desvencilhar desta prerrogativa ao tomar decisões. São pessoas dotadas de convicções

As instituições são fundamentais para a ordem social, de maneira que todos possam viver conforme regras estabelecidas, com o objetivo de cada qual saber os seus direitos e deveres. Considerando ainda que as instituições são formadas pela sociedade, que deve em tese participar de sua formação, na definição destes critérios.

Há, portanto, uma separação entre o público e o privado, sendo que em casa a família define o comportamento a seguir, mas de olho na sociedade, como um todo, que seria o espaço público – a relação é inevitável. O grande problema é quando o universo institucional e público se transforma em interesse somente privado.

Todos podem entender que a justiça é imparcial e isenta das relações sociais, em outras palavras, se distancia das disputas de grupos políticos para então ter condições de arbitrar. O que é uma falácia. Não é possível existir um ser dotado de conhecimento, sem usar suas estratégias políticas para defender seus interesses pessoais ou de grupos que pertence.

Um juiz ou um ministro do STF é um ser político e não consegue se desvencilhar desta prerrogativa ao tomar decisões. São pessoas dotadas de convicções.

Se as instituições são sociais, cabe ao público decidir as suas mudanças, o que pode ocorrer ao eleger pessoas que possam representar os cidadãos nesta tarefa. Se esta visão é correta, o Congresso Nacional, com autoridades eleitas são aquelas que podem decidir pela ordenação social, não exatamente alguém que não passou pelo crivo do voto, mas se diz guardião das leis e da ordem.

O Judiciário tem importância na formação do Estado a exigir a aplicação das leis e fazer justiça. Mas esta justiça não pode ser aquilo que os ministros entendem como justo. O jornalismo adora defender determinados ministros e expor negativamente aqueles que se sinalizam pela modificação de algumas regras tacitamente aceitas.

Neste sentido, o poder exagerado que o STF tem deve ser pensado, afinal, em muitos momentos o conservadorismo impera em favor de grupos que estão no poder há séculos no Brasil. O sistema com sua ordem deve estar em sintonia com o social e não simplesmente ser a realidade decidida nos espaços privados, longe da participação popular.

Se esta for a realidade brasileira, o conflito entre STF e Congresso não tem razão, uma perda de tempo.