Lula e Biden, encontro e conflitos

Política regional

Brasil e Estados Unidos terão conversa nesta quinta-feira (9), na reunião entre Joe Biden e Lula. Encontro importante para que as duas lideranças dialoguem sobre a relação política entre os respectivos países, trocas de experiências sobre democracia e estreitamento de relações. Uma conversa necessária e esperada pelos dois presidentes.

Em questão a Amazônia, meio ambiente, democracia e próximos movimentos políticos regionais – Bolsonaro poderá ser uma conversa fechada ou para discursos indiretos. Temas caros para os brasileiros, cuja reunião abrirá oportunidade para a aproximação entre o país do centro econômico político global e o principal país latino-americano, com amplo mercado consumidor e está entre entre as 20 maiores economias mundiais.

No entanto, assunto sensível poderá ser a guerra na Ucrânia liderada pelos EUA contra a Rússia, de Wladimir Putin. Como há batalhas entre os dois países pelo controle político global, qualquer movimento brasileiro para um lado se distancia do outro.

Neste caso, a China será tema do encontro com frases em público ou conversas apenas informações, potência que ganha importância porque está também em guerra contra os EUA, pelo controle econômico mundial.

A China ao longo das últimas décadas supera os EUA em investimento na América Latina, logo se distanciar do país asiático não representa uma posição esperada para Lula, que vem se manifestando distanciamento da disputa entre as duas nações. Não deve estar na visão de Lula qualquer impasse com Biden, que lidera país com reconhecido protagonismo, há séculos, no comando das políticas e economias internacionais.

Cuba e Venezuela será outro assunto difícil, se vier a tona, a não ser que haja posicionamento de mudança no comportamento dos EUA, de embargo econômico contras as duas nações, que vem gerando atrasos e pobreza internas por décadas, sem solução, com política que sinaliza injustiça social e é antidemocrática.

O Brasil não ganha em abraçar o discurso de Biden para esta visão centralizada de chefe que tudo decide sobre outras nações independentes, com benefício somente para a grande potência. O tempo é de instabilidade política global, porém, e se distancia o período histórico de um domínio absoluto dos norte-americano.

Previsão de tempos latino-americanos

A América Latina entra em um novo ritmo com as mudanças políticas dos últimos anos, com saídas de governos radicalmente de direita ou neoliberais, aqueles que entendem que a solução para qualquer crise é a redução do tamanho do Estado, com ataques ao estado do bem-estar social.

Na Colômbia, Gustavo Petro vem dando passos importantes de negociação com Nicolás Maduro, com abertura de fronteiras, depois de muitas turbulências entre os dois países com interferência de políticos colombianos aliados de primeira hora dos EUA, envolvendo uma oposição venezuelana com discurso conservador e entreguista, aliado anteriormente ao governo do americano Donald Trump. Em tempo, Juan Guaidó se tornou uma piada e de mal humor.

Pensar um país da região deveria resultar em concepção estratégica de toda a América Latina, mas ao contrário, a história se repete, com uma divisão política orquestradas por players interessados na exploração regional, no que se refere à riqueza do solo e consumo.

Presidente da Argentina em encontro com Lula, vencedor das últimas eleições presidenciais no Brasil, em evento na Casa Rosada; os quais representam outros governos com projetos sociais para a América Latina- imagem site Poder 360

Assim, tornando os latino-americanos uma espécie de celeiro de commodities e consumidores de produtos, para enriquecimento externo – sem abertura para industrialização e investimento em tecnologia regional. A palavra, portanto, é negociação e união de forças.

A vitória de Lula no Brasil traz uma vigorosa vitória para este pensamento de união, o qual já sinalizou aproximação com os países de visão social da região, como é o caso da Argentina, Colômbia, Bolívia e Venezuela, Chile, ainda que a questão seja complexa, que exige ampla discussão, mas ecaminhada.

Pensar democracia por aqui exige muita atenção, afinal, pode ser sinônimo de exploração, cuja liberdade e justiça não resultam em reflexo para a maioria da  população, quando se tem uma elite enfeitiçada por New York, Londres, Paris.

A “derrota” de Trump e de seus seguidores nos EUA, neste momento também é uma boa notícia para a região. Primeiramente reduz qualquer visão otimista do bolsonarismo radical no Brasil e aliados do conservadorismo americano com as antenas ligadas nos conflitos da região.

Não se deve esquecer da personalidade do Tio Sam que será sempre pela concentração de poder regional, como pensou os idealizadores de uma “pátria grande” que abarcasse parte da América Latina. Realidade conhecida pelo México que perdeu importante recorte de seu território, com aumento de terras e poder do EUA.

Se historicamente a estratégia de divisão funcionou na região, e pensando nisso a Argentina tem papel fundamental nas próximas eleições, na escolha de novo presidente, cuja situação é complicada para o atual presidente, Alberto Fernández e o Kirchnerismo, tendo nos calcanhares dívida impagável feita nos tristes tempos Maurício Macri e seu grupo político.

Porém, como parece ser, a exemplo de movimentos políticos latino-americanos, os argentinos formam uma população com propostas sociais definitivas e conscientes de seu lugar nestas disputas políticas.

Política do bom humor

Em 21 segundos de informação pode haver números e imagem, com objetividade para a subjetividade da opinião política favorável ao modelo econômico de Paulo Guedes, ministro neoliberal do governo Bolsonaro.

Em 21 segundos o JN da Rede Globo destaca 2019 como sendo o melhor ano para o aumento do emprego formal do Brasil, cerca 762 mil pessoas com carteira assinada. Falta dizer quantas foram retiradas do trabalhador brasileiro, ainda mencionar as milhares de pessoas na fila em busca de algum trabalho. Imagem não falta se este é o objetivo jornalístico.

Resta ainda informação sobre a precariedade do trabalho daqueles que conseguem uma vaga formal, com salários menores e com perdas de direitos. Em 21 segundos de informação pode haver números e imagem, com objetividade para a subjetividade da opinião política favorável ao modelo econômico de Paulo Guedes, ministro neoliberal do governo Bolsonaro.

Outro destaque que merece registrar no Jornal de maior audiência do Brasil é a apresentação do protagonismo dos EUA na negociação com a Turquia no cessar fogo com os curdos. Deixa a impressão de que a terra do tio Sam precisa mesmo ser o herói da guerra. Na realidade o mundo criticou a medida do país norte-americano em deixar os aliados para serem mortos pelos turcos numa região de guerras. Momento em que a Rússia decide enviar tropas para a região.

No final o que se percebe são estratégias econômicas e territorial, com destaque para liderança questionável dos EUA, para comandar a visão de brasileiros que permanecem convivendo com uma abissal diferença de renda em um governo que consegue organizar as contas com privatizações de bens públicos, criando crises institucionais.

100 dias desesperançosos

A imagem do jornalista fotográfico Pedro Ladeira da Folhapress, evidencia um Bolsonaro eufórico, como criança que ganha presente de aniversário que tanto pedira. Diferentemente de um objeto a faixa presidencial é um símbolo de uma nação inteira, com suas diferenças e crises sucessivas, que bem governadas levam o país para o desenvolvimento com igualdade, democracia, justiça. O contrário pode se tornar um inferno para milhares de eleitores raivosos, com razão, embora haja ganhos de uma minoria tradicional.

Imagem – Pedro Ladeira/FolhaPress – Bolsonaro comemora a vitória presidencial, indicando o feito, apontando para a faixa diante do público que o elegeu. 100 dias se passaram do novo governo.

O presidente ultraconservador completa 100 dias de governo na próxima quarta-feira (10), sem apresentar suas propostas sociais, como educação, meio ambiente e emprego. Sobre a econômicas já tinha dito o que faria e põe em marcha guerra com a população, parte de formadores de opinião e alas do Congresso nacional, para reforma da previdência. Não conseguiu fazer uso do símbolo para beneficiar os brasileiros que veem aumentar acentuadamente o desemprego que chega a 30 milhões de pessoas, se analisada a precariedade do trabalho, sem direitos.

A educação pública um caos e o ministro que se mostra incapaz de levar à frente propostas ultraconservadora, entra em conflito com olavistas (Olavo de Carvalho), que é um astrólogo e filósofo que mora nos Estados Unidos e se tornou guru do conhecimento e da reflexão política do governo do capitão reformado. Veja as contradições: um residente do império gritando ordens para a política brasileira.

Os militares apagam o fogo das atrapalhadas de um governo que mais entende de campanha eleitoral, estrategicamente, e esquece que está com a bandeira no peito. Os militares acabam sobrando com a intervenção para acalmar as disputas e perda de popularidade do presidente. Quem diria!

Não é possível pensar Bolsonaro como inocente, mas enfraquecido, o que parece já está acontecendo, um instrumento para o poder na implementação de modelo radicalmente econômico, com desmonte do Estado do bem-estar social. Esta não seria uma novidade para os dias que se passam, com uma globalização que atende aos grandes centros econômicos, explorando uma América Latina como se fosse terra de ninguém ou ocupada por colonizados incivilizados.

Donald Trump, conservador e presidente dos EUA, bom que se diga, se tornou o ídolo do presidente brasileiro, como uma bússola e caminho para que a América Latina se revele de modo transparente um quintal do país da América do Norte. No final, falta Brasil, mas o que se vê é mais brasil, nestes 100 dias de um novo governo, que ainda tem pela frente os quatro anos para governar. É somente o começo.

América Latina precisa ser mais cooperativa contra o poder dos mercados globais, diz Harvey

Folha de S. Paulo

ELEONORA DE LUCENA

Nos últimos dez ou 15 anos, a tendência geral na América Latina é de tomar distância, de ter um maior grau de autonomia em relação aos EUA. Algumas vezes, isso aconteceu de forma mais estridente, como com Chávez. Em outras, de uma forma mais calma, como no caso do Brasil.

Qual sua visão do Brasil após as eleições?

David Harvey – Há um ponto de virada. Será interessante ver para onde Dilma vai virar. Ela pode procurar uma acomodação com a oposição e com os mercados, ou tentar satisfazer as demandas das pessoas que foram para as ruas e que desejam melhorias nos serviços públicos.

Os mercados reagiram negativamente à vitória de Dilma Rousseff. O que prever?

Bolsas de Valores sempre fazem coisas assim. O importante é ver a saída de capitais do país. Isso é que pode criar problemas. Os mercados caem, mas semanas depois estão novamente em alta. Fuga de capital é um problema mais sério. Se isso ocorrer, será preciso ver como Dilma responderia a essa situação.

Como ela deveria responder a essa pressão?

No curto prazo, acalmar os nervos do mercado. Mas ao mesmo tempo, o bem estar da população é fundamental. Ela deve usar o poder o Estado para desenvolver alternativas para a economia e os negócios e, assim, sustar uma eventual fuga de capitais.

Qual a importância da reeleição?

Estamos vivendo tempos difíceis na situação econômica do mundo, não só no Brasil. Geralmente, quando a economia não está indo muito bem, o partido de governo perde. Mas no Brasil isso não aconteceu. Foi uma eleição muito polarizada. Há tempos difíceis pela frente –por causa da economia e pela polarização de classes no país.

A polarização –que também ocorre nos EUA– não é inevitável numa sociedade tão desigual como a brasileira?

É preciso pensar em longo prazo. Quando a redemocratização chegou ao Brasil, foi feita uma aliança entre os governos democráticos e empreendedores e defensores da liberdade empresarial. Há uma tensão entre democracia e mercados. Penso que a sociedade brasileira hoje quer democracia, quer ser mais consultada sobre questões. Há muito descontentamento com a qualidade da vida urbana, com serviços públicos. De outro lado, o pessoal de mercado está preocupado com a acumulação de capital, em construir cidades que sejam mais lucrativas para uma parte da população.

A presidente foi reeleita e, ao mesmo tempo, houve a eleição de um Congresso mais conservador. Como analisar esse quadro?

É diferente o processo de eleição para os parlamentos e para a Presidência, onde são testados carisma, organização. Não me surpreende que os resultados tenham sido divididos.

Da uma perspectiva internacional, qual a importância da vitória de Dilma?

O capitalismo global não está indo muito bem. A Europa e Japão têm basicamente crescimento zero. EUA estão tentando fazer algo. O único lugar que realmente está se expandindo é a China, mas a taxa de crescimento está declinante. O que significa que países conectados com o comércio com a China, como o Brasil, Austrália, estão numa situação de quase estagnação. Vai ser extremamente duro superar a situação de estagnação de longo prazo da economia mundial. Teremos muita sorte se o crescimento mundial for de 2%; em muitas partes ele será zero. Devemos ficar nessa situação por anos. A questão é saber como os diferentes países vão responder a isso. Há países que inovaram e lidaram com essa estagnação de uma forma positiva para a população. É significativo o que está acontecendo na América Latina com a reeleição de Evo Morales, na Bolívia, e com Dilma, no Brasil. Há iniciativas que podem ser tomadas de uma perspectiva de centro-esquerda. Apesar de a economia global estar deprimida, classes afluentes estão indo bem. Os bilionários estão fazendo muito dinheiro. O 1% [mais rico] está muito bem, mas a situação não é boa para o resto da população. A questão é como reformas políticas podem enfrentar essa situação. O significativo da reeleição é que Dilma poderá apresentar um pacote de reformas políticas e estratégias econômicas.

Por exemplo, o que ela deveria fazer?

Uma das fontes de descontentamento do mundo inteiro é a falta de qualidade da vida cotidiana nas cidades: transporte, educação, saúde, casas decentes. Eu digo: faça um projeto urbano de desenvolvimento, que não tem nada a ver com megaprojetos, estádios. Melhore a vida cotidiana da massa da população.

Em relação a governos anteriores, Dilma teve uma relação mais distante em relação aos EUA. Qual deve ser a real reação americana à reeleição?

Nos últimos dez ou 15 anos, a tendência geral na América Latina é de tomar distância, de ter um maior grau de autonomia em relação aos EUA. Algumas vezes, isso aconteceu de forma mais estridente, como com Chávez. Em outras, de uma forma mais calma, como no caso do Brasil. Mas, de todo modo, a América Latina está construindo mais autonomia. Acho que poderia até atuar mais como um bloco regional, promovendo mais acordos e alianças entre os governos latino-americanos. Isso poderia ser mais forte do que vem sendo. As reformas de centro-esquerda foram muito significativas. Reduziram da pobreza no Brasil, no Equador, na Bolívia, e o desenvolvimento espalhou benefícios para o resto da população. Se essa tendência vai continuar depende das dificuldades econômicas que serão confrontadas nos próximos anos. A América Latina em geral é um exemplo de continente que está seguindo um tipo diferente de estratégia econômica, diferente daquela que geralmente favorece as finanças internacionais.

Mas o crescimento é baixo e o ciclo de altos preços das commodities acabou. O que fazer? Qual a margem de manobra para superar essa situação?

Por causa do crescimento menor na China, os preços das commodities tendem a baixar, a demanda é declinante. Será mais fácil fazer algo se todos os países latino-americanos trabalhassem juntos e de forma mais coerente do que ocorre hoje. Poderia haver mais colaboração e cooperação efetivas. Por exemplo, Brasil e Argentina: há ainda muito nacionalismo e competição, mas pouca colaboração e cooperação. Colaboração e cooperação podem ser muito importantes para que a América Latina enfrente, em grande escala, os problemas colocados pela economia global.

Um ponto fundamental na disputa política brasileira é o pré-sal. Como o país deve lidar com essa reserva?

É crucial para qualquer país manejar seus recursos. Assegurar que não haja excesso de extração, investir no desenvolvimento, ou seja, não depender da extração para sobreviver. A Noruega fez muito bem. ***

David HarveyOrigem: nasceu em Gillingham, Kent, Inglaterra em 31 de outubro de 1935.Carreira acadêmica: é professor emérito de antropologia na pós-graduação da Universidade da Cidade de Nova York (Cuny); foi professor de geografia nas universidades Johns Hopkins e Oxford. Livros: “Os Limites do Capital”, “O Enigma do Capital”, entre outros

Equador exige a saída do país de 20 militares dos EUA

DA ASSOCIATED PRESS/Folha de S. Paulo

Equador ordena a expulsão de 20 militares americanos

 

Funcionários são ligados à embaixada dos EUA e devem sair até o fim do mês. Presidente Rafael Correa queixou-se em janeiro de que há militares demais dos Estados Unidos no país

O governo do Equador ordenou que todos os 20 funcionários do Departamento de Defesa dos Estados Unidos que integram o grupo militar da embaixada norte-americana em Quito deixem o país até o final do mês.

O grupo foi ordenado a suspender suas operações no Equador em carta datada de 7 de abril, de acordo com Jeffrey Weinshenker, porta-voz da embaixada.

A Associated Press foi alertada inicialmente sobre as expulsões por um importante funcionário do governo equatoriano que pediu que seu nome não fosse mencionado devido à natureza delicada do assunto.

O presidente equatoriano, Rafael Correa, havia se queixado publicamente em janeiro de que Washington tinha número excessivo de oficiais de suas forças armadas no Equador, alegando que havia 50 deles.

Declarou ainda que estavam infiltrados em todos os setores. Na época, ele disse que planejava ordenar a saída de alguns desses militares.

Weinshenker informou que o grupo militar da embaixada conta com 20 funcionários do Departamento de Defesa, nem todos uniformizados, e que Washington desembolsou US$ 7 milhões em assistência de segurança ao Equador no ano passado, para fins que incluíam treinamento técnico para a manutenção de aviões e cooperação no combate ao tráfico de drogas, tráfico de pessoas e terrorismo.

Weinshenker afirmou que a cooperação militar entre os Estados Unidos e o Equador existia há quatro décadas.

O relacionamento entre os EUA e o Equador se desgastou nos últimos anos, mesmo antes que Correa concedesse asilo, em 2012, ao fundador do WikiLeaks, Julian Assange, cuja organização publicou documentos militares e diplomáticos americanos, causando forte embaraço a Washington.

WIKILEAKS

Correa anteriormente já havia expulsado ao menos três diplomatas norte-americanos, entre as quais a então embaixadora Heather Hodges, em 2011, em resposta a um documento divulgado pelo WikiLeaks cujo texto sugeria que Correa estava ciente de corrupção nos altos escalões da polícia equatoriana.

Em novembro, o governo de Correa anunciou que estava solicitando à Agência de Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos (Usaid) que encerrasse suas operações no país em setembro, quando os programas que ela financia estarão concluídos.

Pouco depois de iniciar seu primeiro mandato, em 2007, Correa expurgou das forças armadas equatorianas oficiais que eram vistos como muito próximos de suas contrapartes norte-americanas.

Também encerrou um acordo com Washington que permitia o uso da base aérea equatoriana em Manta para voos de interdição do tráfico de drogas.

O governo do Equador não se manifestou oficialmente sobre a expulsão dos militares ligados à embaixada norte-americana.

Cuba questiona Twitter criado pelos EUA para promover oposição à ilha

Folha de S. Paulo

Governo de Cuba diz que Twitter criado pelos EUA é ilegal

Cuba classificou como ilegal a criação, pelos EUA, de um serviço semelhante ao Twitter para supostamente promover a oposição política na ilha. Segundo divulgou a agência de notícias Associated Press anteontem, o projeto foi mantido de forma secreta pelos EUA entre 2010 e 2012.

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Os EUA falam muito em democracia, mas deveriam permitir a democracia, diz Jango

Folha de S. Paulo

Entrevista inédita de Jango expõe sua opinião sobre o golpe militar de 1964

O ex-presidente João Goulart no exílio no Uruguai, em cena do documentário 'Dossiê Jango', de Paulo Fontenelle

LUCAS FERRAZ

O ex-presidente João Belchior Marques Goulart via sua queda no golpe de Estado de 1964 como resultado de uma campanha de “envenenamento” da opinião pública contra o seu governo. “Meu maior crime foi tentar combater a ignorância”, dizia ele.

Para Jango, criou-se uma confusão entre justiça social (que ele disse ter buscado) e comunismo (que não compartilhava), e que após o assassinato do presidente americano John Kennedy, em 1963, os EUA começaram a derrubar governos constitucionais na América Latina, entre os quais o dele.

Três anos e sete meses depois de deixar o país, era assim que Jango via o painel da crise que o depôs.

A Folha encontrou na Universidade do Texas uma entrevista inédita do ex-presidente feita pelo historiador americano John W. Foster Dulles (1913-2008). O depoimento, realizado em 15 de novembro de 1967 em Montevidéu, permaneceu desconhecido desde então.

Foster Dulles não a utilizou nos livros que escreveu sobre o Brasil ou personagens brasileiros, como Castello Branco e Carlos Lacerda. O historiador Jorge Ferreira, autor de uma biografia de Jango, disse desconhecer a entrevista. O mesmo foi dito por João Vicente Goulart, filho e responsável pelo instituto que leva o nome do ex-presidente.

Filho e sobrinho de dois dos americanos mais influentes do século 20, que ajudaram a moldar o poder dos EUA, o historiador Foster Dulles contou com a influência familiar para se encontrar no Brasil e no exterior com os principais personagens do golpe de 1964. A biblioteca Nettie Lee Benson, da Universidade do Texas, onde o americano lecionou, guarda as centenas de entrevistas realizadas por ele.

No encontro com João Goulart, segundo o relato de Dulles, o ex-presidente comentou a influência dos EUA e o antiamericanismo no Brasil.

“Não há no Brasil um sentimento contra o povo dos EUA”, disse. “O Brasil quer que a América Latina tenha independência em suas discussões, o país quer que os brasileiros, e isso inclui as classes populares, comandem o próprio destino. O país às vezes sente que há um excesso de interferência dos EUA, que falam muito em democracia, mas deveriam permitir a democracia.”

Jango creditou sua queda e a de governos democráticos na região, como Argentina e Bolívia, à influência de Lyndon Johnson, presidente que assumiu a Casa Branca após o assassinato de Kennedy.

A visão do ex-presidente não era correta, mas ele não viveria para ver as revelações sobre a participação americana no golpe: Johnson apenas seguiu o script planejado pelo antecessor, que teve relação amistosa com o brasileiro enquanto eram presidentes.

Sobre o envenenamento da opinião pública, Jango relembrou a feroz posição da imprensa contra o seu governo. “As pessoas na América Latina não são inclinadas ao comunismo. Justiça social não é algo marxista ou comunista”, ressaltou.

O ex-presidente alegou ter feito ” grandes concessões a grupos políticos” para promover as reformas de base, uma de suas bandeiras, sem sucesso. À época, seu governo não conseguiu aprovar as reformas, como a agrária, num Congresso de maioria conservadora. “Eram reformas a favor da independência, do desenvolvimento, do bem-estar e da justiça social.”

Como reconheceu, a lei que regulamentou a remessa de lucros de empresas estrangeiras “causou grande perturbação ao governo”. “As companhias estrangeiras estavam preocupadas. Quando o capital estrangeiro entra e sai, não há vantagem para o Brasil. Ao contrário, esse capital prejudica. Todo capital estrangeiro deveria ser bem-vindo se colaborasse com o desenvolvimento do país.”

Conforme registrado por Foster Dulles, Jango não queria que as declarações fossem atribuídas a ele, tratando-se apenas de “sentimentos pessoais”, para ajudá-lo a compreender o Brasil.

O presidente deposto lembrou que o golpe ceifou a oportunidade de o Brasil dar “um grande impulso para o processo democrático” na América Latina. E ainda citou, ao que parece se referindo ao clima político de sua queda, que “o excesso de liberdade é ruim, mas o excesso de oposição também é ruim”.

A guerra já começou

Assim, podemos pensar que o mundo contemporâneo é mais complicado do que a mídia quer mostrar

Nodebate – Há especialistas, fontes de grandes jornais, analisando que numa provável endurecimento de Putin, a Rússia teria mais a perder do que a Europa, entrando numa grave crise, com recursos públicos e privados congelados no ocidente. Tudo bem se os conflitos que ocorrem na atualidade se passassem apenas pelas questões econômicas.

Numa guerra que já começou, em jogo está o poder de decisão e capital simbólico. Isso quer dizer que a Rússia mantendo sua postura de não ceder, golpeando os seus adversários, passa a ser um forte jogador nas decisões globais.

Como resultado ganhos econômicos, pois deverá ser observado o seu quinhão de pode adquirido com suas investidas no fatiamento da política global. Uma divisão da ordem social global reduz enormemente o poder dos Estados Unidos, como potência bélica, com ofuscamento de sua capacidade de vencer qualquer nação, se impondo como xerife planetário. Se há relação entre EUA/EU, por outro lado existe a proximidade entre Rússia/China. A questão, portanto, não é simplesmente uma equação econômica imediata.

Mais a mais as disputas de bastidores é mais complexa, com estratégias que a mídia não divulga, com evidência. Afinal, a  maioria das agências que abastecem o mundo com  informações vem exatamente dos países do bloco EU/EUA. Para piorar, no caso do jornalismo brasileiro, comum as informações de repórteres serem feitas de Nova York e Londres.

Assim, podemos pensar que o mundo contemporâneo é mais complicado do que a mídia quer mostrar.

Maduro (Venezuela) anuncia lei que limita lucro de empresas em até 30%

Folha de S. Paulo

Imagem – Site Lavoz

Em discurso à Assembleia Nacional na noite de quarta-feira, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou nova lei que limita em 30% a margem de lucro máxima para todas as empresas

Essa é mais uma medida de Maduro para tentar controlar os preços no país na tentativa de conter a inflação, que chegou a 56% em 2013.

O presidente venezuelano também afirmou que na próxima semana modificará de forma “substancial” a Lei de Ilícitos Cambiais, que regula os crimes associados com o manejo ilegal de divisas no país, para que o setor privado possa oferecer dólares através do Estado.

“Vou fazer uma modificação substancial da lei contra os ilícitos cambiais para permitir que os setores privados possam ofertar divisas (…) o que já estamos implementando no (dólar) turismo”, informou o presidente.

Na Venezuela não existe livre acesso à compra e venda de dólares desde 2003, quando entrou em vigor um sistema de controle do câmbio com regras para obter moedas estrangeiras e que obriga pessoas físicas e jurídicas a realizarem seus pedidos através de vários mecanismos para conseguir dólares a uma taxa de 6,3 bolívares.

EUA

Maduro afirmou também que seu governo está preparado para retomar as negociações com Washington.

O diálogo, iniciado em julho, foi interrompido após Maduro acusar os EUA de bloquearem a passagem do avião presidencial por Porto Rico.

Ele condicionou a volta das negociações ao fim das medidas retaliatórias. “Já chega dessas perseguições às vezes infantis (…) a Venezuela agora é um país independente”.

Venezuela e EUA estão desde 2010 sem embaixadores.