Estado sem Público

Em essência, quando se privatiza tudo não sobra nada para o público, pois o Estado passa a não existir legitimamente. Neste sentido, sobra a pergunta: qual a razão de um governo sem o público?

 

Há sempre uma grande dúvida sobre o que representa o neoliberalismo econômico. Para os empresários, principalmente os grandes líderes de mercado, trata-se de uma solução para o desenvolvimento das nações, com a melhoria de vida da população. Mas para grande parte da sociedade, na realidade o objetivo de seus defensores é reduzir a força do Estado para as determinações das corporações empresariais, que se ramificariam para todos os setores públicos.

Neste cenário é que se devem pensar os governos brasileiros, que se definem na sua maioria pela prioridade aos interesses econômicos privados, sem considerar a condição de inferioridade do cidadão, que depende das instituições públicas.

Em Goiás o Governador tucano Marconi Perillo ao longo de sua vida política definiu o seu perfil de governo: a liberação econômica de amplos setores do Estado para a iniciativa privada é a tônica de sua gestão do “tempo novo”.

Desta maneira, mesmo com dificuldades financeiras e falta de apoio popular entende que deve tomar decisões que favorecem a setores empresariais, como é o caso das privatizações das rodovias, da distribuição de água, tentativa de repasse da energia elétrica para a iniciativa privada e agora estatal. Nem mesmo o Vap Vupt fica fora de seu projeto de terceirização, um órgão de atendimento ao grande público, para questões burocráticas estatais.

O mais difícil de entender é que há mudanças substanciais na forma de governar de gestões dos grandes centros econômicos mundiais, diante da falência deste sistema. O caso mais emblemático é a crise dos Estados Unidos com a chama bolha imobiliária em decorrência do excesso de desejo de lucros dos bancos. Barack Obama demonstra claramente interesse em restringir o poder das corporações no país, certamente por uma questão de sobrevivência política e social. Bom considerar ser a não que se reconhece mais liberal do mundo.

Neoliberalismo paulista

São Paulo sob o comando dos tucanos há décadas parece que vai perdendo forças o modo de gestão com base na relação privado-público, ou seja, primeiro se define a demanda e depois pensa em qual empresa vai explorar. O Estado (ente público) seria uma espécie de repartição que organiza os interesses privados. Razoável lembrar o que foi a grande privatização do país comandada pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso em dois mandatos.

A queda nas pesquisas de José Serra demonstra claramente a indisposição da comunidade ao seu estilo “velho tempo” de administração e fazer política, da elitização. O candidato do PSDB ocupa a terceira posição na capital paulista, atrás do petista Fernando Haddad e longe do televisual Celso Russomanno (PRB), com grande vantagem neste momento.

Em essência, quando se privatiza tudo não sobra nada para o público, pois o Estado passa a não existir legitimamente. Neste sentido, sobra a pergunta: qual a razão de um governo sem o público? A iniciativa privada é eficiente, porém tem outros interesses, mais particulares do que os do coletivo, o qual sendo maioria elege seus governantes, mas também dá cartão vermelho.

Autor: Antonio S. Silva

Jornalista, doutor pela UnB e professor da (UFMT, com mestrado pela PUC/SP e Docente no curso de Jornalismo da UFMT. Em essência, acreditamos que é necessário o diálogo para construirmos, democraticamente, um país melhor.

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